segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Carmen Miranda: A grande biografia da Pequena Notável


Como transpor para o papel a vida de uma artista que explode em cores, ritmos e música? Essa foi a difícil tarefa que Ruy Castro tomou para si quando em 2002 decidiu começar a escrever a biografia de um dos maiores ícones brasileiros de todos os tempos: Camen Miranda.

Ela nasceu em Portugal, mas se considerava brasileiríssima. Isso porque saiu da terrinha com poucos meses de vida e passou toda a sua infância, juventude e parte da vida adulta em terras tupiniquins. A Pequena Notável – como foi apelidada pelo radialista e amigo César Ladeira – cresceu na Lapa, no Rio de Janeiro. Foi nesse ambiente dominado por famílias de imigrantes de dia e por boates e prostitutas de noite que grande parte da personalidade da futura cantora se formou. Ao ler o livro, o próprio autor identifica essa importância, mas falha ao dar ao leitor um relato mais profundo sobre essa época da vida de Carmen. Talvez Ruy Castro tenha feito o possível para conseguir informações sobre esse período de anonimato, mas quem lê fica desejando saber mais.

O estrelato não demorou a chegar para Miss Miranda. Josué de Barros foi o homem responsável por ouvir Carmen cantando pela primeira vez de maneira profissional. Apaixonou-se pela voz daquela garota e enxergou nela uma estrela. Escreveu músicas para a então novata e começou a apresentá-la no meio musical carioca do início dos anos 30. Não é a toa que Josué se considera a pessoa que encontrou Carmen Miranda.

Mas o sucesso só veio mesmo com “Pra você gostar de mim (Taí)” que foi um estouro no Carnaval de 1930. Depois disso, ninguém mais a segurou. Os compositores iam até a casa dela aos montes para oferecer canções. Ela recebia a todos de maneira muito simpática e informal – e assim levou a maior parte de sua carreira no Rio. Foi um sucesso atrás do outro.

Seus 281 discos gravados no Brasil embalaram os brasileiros e até os argentinos, que a requisitavam com freqüência para fazer pequenas temporadas em Buenos Aires. Vale destacar que Carmen venceu profissionalmente em uma cidade que era lar de artistas como Dorival Caymmi, Mario Reis, Francisco Alves e Ary Barroso, entre tantos outros. E quem pensa que deveria haver uma rivalidade enorme entre essas estrelas, está muito enganado. Todos viviam como uma grande família.

Ruy Castro faz bem ao frisar que Carmen só vestiu a fantasia de baiana que a caracteriza até hoje depois de estar muito bem estabelecida como interprete. Quando o já citado Caymmi apresentou para ela a música “O que é que a baiana tem?”, os dois decidiram confeccionar uma roupa para Miranda usar em suas apresentações. Todos os elementos citados na música estavam lá: torso de seda, brinco de ouro, corrente de ouro, pano da Costa, bata rendada, saia engomada, balangandãs e o famoso chapéu de frutas – que cresceria cada vez mais com o tempo.

Quando um magnata da Broadway viu essa maravilha brasileira, ele não teve dúvidas: Carmen Miranda precisava ir para a América. E ela foi. Chegou aos Estados Unidos desconhecida, mas bastou uma apresentação em Boston da revista musical que participava, “Streets of Paris”, para se tornar uma celebridade por lá também. Os americanos logo se apaixonaram por aquela mulher baixinha de olhos verdes incrustados em uma piscina branca e de cabelos pretíssimos. Já as americanas queriam usar turbantes e plataformas como a “Brazilian Bombshell”.

O sucesso foi tanto que a Broadway não foi suficiente. Carmen logo estava sendo requisitada em Hollywood para fazer filmes na Fox. Ela se instalou em Los Angeles e concentrava todos os brasileiros de passagem pela região ao seu redor. Afinal, nunca se esqueceu do Brasil. E nem deixavam que ela esquecesse.  Na maioria dos filmes que estrelava, Camen interpretava alguma personagem latina e cantava músicas de seu repertório que eram mais adequadas ao gosto estadunidense.

Um dos pontos positivos do livro de Ruy Castro é situar o leitor com relação a época e aos personagens que cercavam Carmen Miranda. Por exemplo, o autor tem a sensibilidade de explicar o motivo da recepção fria que foi reservada a cantora em sua apresentação no Cassino da Urca depois de voltar dos EUA. Também nos traz uma breve biografia de cada pessoa que foi importante na vida dela. Nada é jogado na cara do leitor aleatoriamente.

As fontes de Castro são as mais diversas. Desde filhos dos integrantes do Bando da Lua – grupo de músicos que acompanhou Carmen em sua jornada norte-americana – até a irmã Cecília Miranda. Todos contribuíram para que as quase 600 páginas de Carmen se transformassem em uma obra sólida e definitiva sobre a brasileira mais famosa do século XX.

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